Dizem-nos que os tempos não estão para desistentes. Que a luta é agora e que, mais do que nunca, é preciso fazer ouvir a nossa voz para lá da gritaria que ocupa cada pequena janela das redes da nossa vida. O que não nos dizem é que, quando competimos pela razão, a razão também é perdedora.
Canta Fiona Apple, no seu último álbum, que “I know if I hate you for hating me,I will have entered the endless race”. De certa forma, é exatamente nessa corrida sem fim que entrámos todos na forma como cedemos a um discurso acelerado, de indignações e verdades cristalizadas, com o qual toda a discussão parece estar sempre a entrar em vielas sem saída.
A novidade dos nossos tempos não é o crescimento de movimentos políticos, não é a violência do discurso, não é sequer o facto de vivermos tempos piores ou melhores, com mais ou menos crises, do que em qualquer outra fase da história da humanidade. Novidade, sim, é a perda de territórios para uma discussão não competitiva, que consiga pesar os factos em cima da mesa, que os tente entender e explicar.
Não estamos, constantemente, num concurso para saber se somos melhor do que outro. Nem estamos numa corrida sem fim para sermos o melhor do nossa rua ou da nossa tendência ideológica. Neste mundo de corridas, todos perdemos. Os que se deixam enganar pelos discursos de fim-de-mundo de Trumps, Bolsonaros ou Venturas, como os que se deixam levar pela necessidade de atacar o fogo com mais fogo.
É, seguramente, o tempo de evitar entrar na corrida sem fim. Não respondendo com ódio ao discurso do ódio, mas com alternativas baseadas na razão. Não correndo para o estridente do título bombástico, mas respondendo-lhe com firmeza. Não nos deixando enredar na opinião sem base, mas na utilização do conhecimento e da ciência para se fazer a diferença. É tempo de ser diferente. E é na consistência dessa opção que se acabará, finalmente, por vencer no espaço democrático.