“Hoje tende-se a classificar a história, quando a realidade é sempre mais ambígua, menos categórica”, define a escritora Leila Slimani no Babelia de passado sábado. De alguma forma, a luta pela posse da história é um processo contínuo e não vê final. Cada um escreve a história conforme o seu interesse presente e, por isso mesmo, a cada indivíduo, a cada grupo, a posse da história surge como uma reivindicação da possibilidade de, quando o momento o determinar, a poder reescrever. A menorização do livro enquanto instrumento de conhecimento também passa por aqui: sem documento impresso, a prova é mais facilmente manipulável.
Podíamos e devíamos festejar a nossa história comum, na sua diversidade, nos desafios lançados pela diferença de ideias e de tomadas de posição, na riqueza plural de nos vermos a crescer nas dificuldades que a argumentação nos lança. Mas mais à mão surge uma pedra da calçada, pronta a ser disparada para o meio de uma palavra que petrifica e esconde a nossa tendência natural para termos dúvidas, mesmo daquelas coisas em que acreditamos. O regresso à incerteza acaba, desta forma, por se transformar em necessidade, num projeto de vida onde as perguntas serão sempre mais importantes do que as respostas. O fundamental é tentar.