Detemo-nos demasiadas vezes no discurso quando aquilo que pode transformar o mundo é o método. A explicação para que isso aconteça é relativamente fácil. No discurso basta-nos colocar algumas palavras-chave para, desde logo, transmitir uma ideia de diferença ou de mudança que prende a atenção de quem nos ouve. Alterar o método é mais complexo. Primeiro, porque se os nossos antecessores funcionaram de determinada maneira, é porque alguma razão tiveram para a adotar. Segundo, porque, por vezes, mudar o método não tem tanto aparato como mudar o discurso e, então, os nossos interlocutores poderão acabar por não notar a diferença.
Esta distinção torna-se mais sensível quando, no contexto político-partidário, aparecem novos atores que prometem, através das suas estratégias, provocar tumulto e alteração (ou será altercação?) na forma de se discorrer sobre os temas que interessam às populações. Na dimensão do discurso, é relativamente fácil entender como uma forma de falar mais agressiva, o desrespeito pelas ideias ou opiniões dos outros, a transformação de qualquer debate numa luta pela parca capacidade de concentração dos cérebros do século XXI, criam ilusões de mudança. Isso também se percebe pela forma como algumas forças partidárias emergentes escolhem, consoante os públicos, elaborar os seus elementos de campanha. Desde o radicalismo simplista do Chega até à elaboração publicitária da Iniciativa Liberal.
Já quanto aos métodos, os perigos que corremos são maiores. Em primeiro lugar porque, na ânsia de provocar a altercação (aqui, sim), abusa-se forçosamente na classificação do nós contra eles. A aplicação exagerada de noções totalitaristas sobre os adversários, não sendo propriamente uma novidade, transformou-se num recurso quotidiano. Bem como a utilização de chavões que possam provocar a dúvida sobre o entendimento da realidade de quem assiste às intervenções. Fala-se com imensa certeza de possibilidades fáceis para problemas complexos, entende-se ter soluções simples para situações complicadas, vendem-se sonhos de aperfeiçoamento cultural sem se elaborar muito sobre os custos - financeiros e humanos - de determinadas revoluções prometidas. No mundo da promessa, a revolta do votante é uma vitória para o votado.
Mas os perigos que corremos crescem, sobretudo, pelo perigo de contaminação. E se aqueles que pretendem atentar contra o estado democrático conseguirem impor um novo discurso e um novo método, mesmo sem sucessos eleitorais, já conseguirão sair a ganhar. É aqui que a nossa vigilância se deve impor. Porque a democracia é o único espaço onde temos o direito e a obrigação de debater com aqueles que são diferentes de nós, de maneira a encontrarmos um caminho que englobe essas mesmas diferenças, não nos podemos calar perante a possibilidade do debate. Tal como não nos podemos deixar levar pelo “jeitinho” que a utilização de métodos menos próprios à democracia, sejam eles a difamação, a revelação de documentos ou dados pessoais ou outros, oferecem às nossas causas. Um método mau é um método mau, independentemente dos resultados.
É por isso, afinal, que aquilo que está em causa quando entramos numa campanha eleitoral, para além das ideias e da capacidade de execução que cada força apresenta, é sobretudo a sua clareza de posicionamento democrático. Se, perante uma situação de crise, o seu método continuará a ser clara e objetivamente na defesa da democracia, na sustentação dos seus projetos, na defesa e no serviço às populações. Porque aquilo que acabará por influenciar os nossos destinos não é quem ganha ou quem perde, é a ação que será adotada por aqueles que tiverem a capacidade de formar uma maioria. Tornando o nosso trabalho, como participantes do ato democrático, um pouco mais complexo do que escolher quem nos parece o melhor.