A Europa é redonda (11)


“Quando chega domingo, faço tenção de todas as coisas mais belas que um homem pode fazer na vida”, escreveu Manuel da Fonseca e disse Mário Viegas melhor do que ninguém. Sair cedo de casa para caminhar dezasseis quilómetros pelo meio de vinhas, aldeias, eucaliptais e zonas industriais, até estar de volta à cidade. Chatear o André Venceslau para ir comer as melhores iscas passíveis de serem comidas a um domingo, no Restaurante Beirão. Voltar a caminhar para desmoer até pararmos na sede do Atlético do Castelo, a beber uma cerveja enquanto olhamos fotografias de antigas equipas do bairro. 

Domingo de folga, depois de vinte e quatro encontros jogados e com quase todas as contas por fazer. Mas não nos apressemos tão depressa por dentro dessa matemática dos grupos, temos tempo, fiquemos aqui pelo miradouro a falar sobre João César Monteiro, sobre antigas colegas de escola, sobre o teu pai e o meu, sobre as coisas que ainda queremos fazer e as coisas que já fizemos, muito provavelmente, pela última vez. Fiquemos aqui, sem beber mais do que a conta, a perceber como o tempo passou e ainda continuará a passar, nestas tardes de domingo de uma cidade quase deserta, tão confortável quanto a nossa preguiça. 

Porque hoje é domingo, sim, e está quase a começar a bola. Chegado já casa, varanda aberta para que as gatas se espreguicem depois da sesta, o sofá que me espera enquanto as equipas se preparam em aquecimentos, jogos que se oferecem, lá está, à matemática dos pontos, um golo vale mais do que outro porque, no entretanto, as coisas acontecem em vários campos ao mesmo tempo, como o tempo se esvai, tarde fora, entre aqueles que farão as malas para continuarem no campeonato e os que viajarão para fora dele. Mas é domingo, sim, dia de fazer as coisas mais belas que um homem pode na vida.