O punho



Reconheço a importância dos pequenos gestos, mas para cada um deles, é preciso um contexto, um local, onde o fazer conquistar esse relevo. No episódio do aperto de mão entre Donald Trump e Emmanuel Macron, parece-me que a grandeza do momento acaba por resumir aquilo em que a discussão política do mundo em que vivemos se transformou, um pequeno circo onde quem tiver punho mais forte acabará por vencer.

É uma espécie de regresso ao mais básico e vazio no poder. Sentir-se, enquanto presidente de uma das nações mais poderosas do mundo, que se impõe a sua posição pela forma como puxamos o braço daquele que fingimos cumprimentar. Descer para nos colocarmos nesse campo, e não deixar que isso passe em claro, reforçando-o numa entrevista posterior, é assumir que pertencemos à mesma linhagem de ideias, onde o sucesso é a ideologia e o ser-se o mais forte um modo de ser.

No lugar das ideias e das visões do mundo, no lugar das soluções e das propostas, no lugar da discussão aberta entre chefes de estado que estão posicionados para transformar o mundo, o punho ganha relevo, e só o punho, na assunção das aparências, não como o mais importante, mas como única luta que se trava na diplomacia internacional. Um punho, quanto mais forte, mais fraco, na crença que merece quanto aos seus efeitos positivos.

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