A actualidade do jornalismo de Eduardo Galeano



Escrito originalmente em 1971, As Veias Abertas da América Latina, de Eduardo Galeano, entram na história de um continente para lhe traçar uma identidade de dominação e exploração que, à época, lhe parecia intrínseca. Infelizmente, apesar dos quarenta e seis anos passados desde o momento da escrita do livro até ao presente, mantém-se o diagnóstico e repetem-se os mesmos movimentos, com a população local a ser a maior vítima.

O desafio de escrever sobre história sem se ser historiador, sobre economia sem se ser economista, de política sem se ser político, cumpre-se através do papel do jornalista engajado que foi Eduardo Galeano. Montando o livro como uma reportagem, sem esquecer a noção de narrativa, a escrita límpida e certeira de Galeano aparece a cada página com uma justeza e a força dos dados apresentados. Se alguém espera que um livro possa ser um fiel retrato de um momento histórico, este título tem o poder de encerrar em si uma história inteira de uma população.

Não se pode passar por este livro sem que aquilo que mais no salta à vista seja, não o passado, mas a forma como o presente continua moldado aos mesmos interesses. Desde o momento em que expedições espanholas e portuguesas pisam o continente americano, servindo-se da exploração mais básica de matérias-primas e população nativa para alimentar uma extorsão que acaba por ter, de uma forma geral, destino para lá das suas fronteiras, até ao engano da libertação da América Latina para ser entregue à exploração britânica, até à forma como os interesses dos Estados Unidos - único território das Américas que não foi sugado pelos interesses europeus, mas que repetiu a organização europeia para se alimentar da sua vizinhança - foram sendo impostos a cada país do continente.

A confirmação da oportunidade da publicação deste livro está na actualidade que este conhecimento nos transmite, na forma como pode ser aplicado às situações que se desenrolam na Argentina, no Brasil ou na Venezuela, mas também na maneira como implica as situações de Cuba, Porto Rico ou Haiti, apenas para enumerar os casos mais acompanhados deste lado do oceano. A maneira como as relações estão estabelecidas, os cargos impostos pela ajuda financeira e humanitária, a linguagem daqueles que defendem os meios de produção entregues aos interesses das populações ou do capital estrangeiro, não são novidades (porque há séculos que se vêm repetindo), nem são antiguidades (porque continuam bem vivas as formas de explorar).

É por isso que temos que ler As Veias Abertas da América Latina.