Da promoção da ignorância no espaço público

Tempos estranhos estes onde a maioria dos campos onde procuramos informação e conhecimento nos injectam com todo o seu contrário. A promoção da ignorância no espaço público retira-nos qualquer tipo de espaço respirável para elaborar um sentido novo para as nossas vidas. Quando se fala de política, de sociedade, de cultura ou de desporto, a palavra de ordem parece uma tentativa de inovação regressiva do espaço que queremos de evolução. A mentira estabelecida como forma de combate, a polémica como único estado de espírito aceite, a repetição como forma de preencher o vazio, a ignorância como novo poder de forma.

Por vezes é muito útil viajar dentro de um dicionário. “Opinião”, manifestação das ideias individuais a respeito de algo ou alguém. “Ideias”, definir antecipadamente um plano ou um conjunto de acções ou intenções. “Planear”, definir antecipadamente um conjunto de acções ou intenções. “Intenção”, resultado da vontade depois de admitir uma ideia como projecto. Ou seja, ter uma opinião, ter uma ideia, implica trabalho, estudo, concretização de planos. Não basta falar para se ter uma opinião, não basta andar acordado, sem qualquer base que nos sustente, para se ter uma ideia. 

E, no entanto, vivemos tempos onde a adesão à opção mais fácil parece ser sempre escolhida em detrimento da opção que implica pensar, estudar, planear. Adere-se a certezas inúteis em detrimento de dúvidas produtivas. Colhem-se glórias efémeras em lugar de procurar alimentar o crescimento do meio e das pessoas que tocamos. Vivemos num exclusivo modo de distração sobre educação, com os riscos e os perigos que esses envolvem. Resistir a essa tentação é, nos nossos dias, aguentar a barra que nos permitirá, num futuro próximo, construir para diferenciar positivamente. Resistir a essa tentação é, de todas as formas, mais do que uma obrigação. 


Ilustração rawpixel.com / Freepik