Em artigo publicado este fim-de-semana no jornal La Vanguardia, Daniel Innerarity foca-se nos paradoxos que marcam a relação entre cidadãos e políticos. Segundo este filósofo, a humanidade “expõe, com muita frequência, reclamações contraditórias ou expetativas que não são compatíveis”. Essa ideia poderia levar-nos a pensar que o impossível não é realizável e que, na política, o sonho e a criatividade encontrariam, nos nossos dias, uma porta fechada ao seu acesso.
Isto parece-me intimamente ligado à forma como entendemos cada medida tomada por governos ou autarquias na gestão de problemas que nos afetam. Muitas vezes alimentamos a ideia de um decisor que tudo sabe e tudo pode, esperando, simplesmente, que resolva os problemas por nós. Ao mesmo tempo sentimos uma constante necessidade de encontrar na política quem tenha um rasgo, um brilho, que nos permita ver as soluções que não estão lá e aponte caminhos que, antes, nos eram imperceptíveis.
Podemos, no campo da política e da gestão pública, desejar o sol na eira e a chuva no nabal? É provável que, apesar dos excessos com que se entende o espaço público enquanto praça de polémica, exista uma raiz que nos permita crescer neste entendimento das muitas vias para gerir em comunidade. Encontrando planos que apontem uma visão clara do que queremos para o país, para a região, para o concelho, ao mesmo tempo que nos dispomos a ouvir quem vive nestes territórios.
No Público de sábado, Andrea Cunha Freitas assinalava que a política não gosta do “não sei” dos cientistas. Mas é exatamente em volta desse ponto de interrogação que podem nascer novos espaços de entendimento entre política, conhecimento e população. Talvez o território não precise tanto de uma conclusão do que precise de integração, de uma ação que permita que todos participem. Para que a decisão política inclua, não só, o apontar do caminho, mas também, e sobretudo, o acompanhamento que todos precisam para se sentir parte dessa viagem.