Eleições autárquicas em meios de comunicação nacionais

O papel dos meios de comunicação nacionais num ano de eleições autárquicas deveria ser tema de profunda reflexão, num momento em entramos em período de pré-campanha um pouco por todo o país. De forma natural, os principais canais de informação focam-se no tema a partir das implicações na política nacional, analisando a capacidade de persuasão de cada líder partidário na organização das suas listas de candidatos, tentando prever, a muitos meses de distância, uma leitura de eventuais resultados que agruparão de forma indistinta os 308 casos diferentes que cada município nos oferece. 

O problema é que cada história é uma história e uma visão de grupo acaba por agir, por vezes de forma violenta, na forma como cada eleição terá lugar. Comecemos pelo ponto onde os próprios partidos políticos tentam distribuir os seus melhores trunfos por diferentes municípios, a partir destes meios de comunicação, lançando nomes como possibilidades para duas ou mais câmaras municipais, dando a entender que o conhecimento do caso concreto é secundário na persecução de uma política autárquica de qualidade - só por aí, percebe-se que as visões à distância se focam em dados de importância muito limitada para as populações que residem e trabalham em cada concelho

Mas a situação piora quando, através de meios de comunicação nacionais, se promovem diferentes candidaturas. Um pouco por todo o lado vamos vendo como presidentes de câmara têm espaço para reivindicar o seu balanço de mandato em páginas e sites de grandes meios nacionais, muitas das vezes sem qualquer nota de relevância para um caso nacional ou para o entendimento das notícias do dia, sem grande contraditório, sem espaço para se perceber que alternativas se apresentam, sem rumo editorial que compreenda que uma página de jornal, seja em papel ou num site, transportam valor para quem as lê - e quem as lê, com olhos de ler, são os munícipes de cada autarquia que aí é retratada. 

Seria de todo impossível exigir que cada meio dispusesse de especialistas em 308 concelhos diferentes. Mas uma curadoria do que é feito e publicado relativamente ao tema eleições autárquicas permitiria cumprir o papel de informar, com ética e transparência, acerca da importância de cada um dos trabalhos publicados. Refletir, para além disso, que as eleições autárquicas, para lá do resultado nacional, comportam 308 resultados locais com diferentes consequências, para além de vários casos de consequências regionais de enorme valor para as populações, de forma direta, e para o país, de forma indireta. 

Até porque, muitos daqueles que conseguem, um dia, a sua promoção a partir destes momentos de inocente ignorância dos impactos de uma notícia, mais tarde acabam por estar, de novo, na berra, por questões de muito maior impacto. Ninguém poderá queixar-se de ficar, com isso, surpreendido.