A democracia hoje

Existe sempre mais do que uma maneira de olhar para a mesma coisa. A democracia é a transposição para a governação política dessa observação prática pela qual já todos passamos. E, no entanto, apesar de precisarmos de dar apenas um passo ao lado da nossa posição para percebermos as coisas de um diferente ponto-de-vista, quantos de nós se agarram, de unhas e dentes, à fixação de uma verdade que exclua tantos outros, como nós, da equação? De alguma maneira, perante a impossibilidade de debater ideias, demasiados se entregam ao exercício de fomentar barreiras - até mesmo em nome de uma liberdade.

Foto Carlos Miguel

O 25 de Abril foi ocasião para diversos trabalhos jornalísticos sobre o estado da democracia. No Semanário Expresso, uma sondagem revela-nos que apenas 10% dos inquiridos crêem viver numa democracia plena, num total de 57% com uma visão ainda positiva da mesma. Mas os dados mais preocupantes seguem noutras perguntas da sondagem. A forma como apenas 21% dos inquiridos acreditam que os políticos se preocupam com o que as pessoas pensam, apenas 24% acredita que o estado é gerido de forma a beneficiar todas as pessoas, metade dos inquiridos vêem no voto uma forma de intervir na forma como se governa.

Estes dados obrigam-nos a respostas que nos retiram de espaços onde estaríamos confortáveis. Manter as mesmas organizações de sempre, as mesmas discussões de sempre, seguir exatamente os mesmos caminhos não nos permite dar respostas credíveis às necessidades do nosso tempo. Sobretudo quando essa lógica é de divisão, fomentando um inexplicável “nós” contra uns indefinidos “outros”. 

É por isso fundamental encontrarmos espaços onde as nossas ideias são confrontadas, alimentarmos convergências para a resolução de problemas da comunidade, transformarmos a possibilidade de todos participarem, de forma equilibrada e satisfatória, nas decisões que são tomadas. Viver a democracia não é apenas um trabalho de ansiar pela plenitude do futuro, é saber imiscuir-se nos processos que alimentam a chegada a esse ponto. Porque existe sempre mais do que uma maneira de olhar para a mesma coisa.