A Pobreza em Portugal: a necessidade de respostas estruturantes para problemas estruturais

O estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos, “A Pobreza em Portugal: Trajetos e Quotidianos”, coordenado por Fernando Diogo, oferece mais do que uma fotografia do nosso país, convida-nos a mergulhar numa história que mantém sequestrados numa pobreza estrutural muitos dos nossos concidadãos. Os excertos das entrevistas que foram publicados demonstram, acima de tudo, a forma como a pobreza se impõe como parte de vidas inteiras que nunca, no seu percurso, encontraram forma de a superar. 

Salta a vista a forma como os apoios sociais estão ainda longe de muitos daqueles que deles poderiam beneficiar. A própria pobreza encarrega-se de afastar essas pessoas pela forma incapacitante como se impõe. As muitas vidas que se viram forçadas a trabalhar em idade muito jovem, a ter problemas de aprendizagem que se vieram a revelar como inultrapassáveis em idade adulta, que acabaram por não encontrar um emprego e uma estrutura familiar estável, são também elas marcadas pela incapacidade de aceder a determinados apoios que poderiam ser fundamentais - daí se percebendo também como uma maioria dos entrevistados acabam por ser críticos dos serviços de segurança social e de outros serviços de proteção do Estado. 

Enquanto país, não fizemos ainda o suficiente para responder a uma pobreza que leva à estagnação, à resignação e à aproximação à miséria de tantos que merecem encontrar uma base para levar a sua vida de forma diferente. Mas não deixa de ser chocante a forma como tantos com emprego, alguns há 20 anos, não conseguem ainda assim largar o espectro da pobreza, demonstrando que não está apenas no trabalho o caminho para a emancipação. A educação, o conhecimento e a capacidade de gestão humana e social de cada um são caminhos a completar para se conquistar um espaço de vida digna. Mais do que uma ideia de apoio social, importa pensar a sociedade como caminhos para a dignificação de todos, independentemente do seu ponto de partida.

O combate aos factores estruturais da pobreza deve ser considerado como uma das prioridades políticas dos nossos tempos. A desproteção de uma larga fatia da população do nosso país cria uma situação indigna mas, sobretudo, trava a capacidade de crescimento democrático do país. O reconhecimento da situação que estudos como este permite, a capacidade de apontar às comunidades onde a intervenção tem que ser mais capaz e fundamentada, bem como a necessidade de olharmos para esta questão de forma global - e não do ponto-de-vista da exclusão, colocando a pobreza fora do cenário do nosso quotidiano, permitir-nos-á responder, finalmente, de forma estruturada a este problema. 


Ligação para o estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos - “A Pobreza em Portugal: Trajetos e Quotidianos”