Não é normal

Querem fazer-nos pensar que é normal insultar pessoas. Todos os dias enfrentamos a calúnia, a acusação, como resposta à mera atividade de termos atividade pública. Basta escrever numa rede social, dar a cara num jornal, tecer uma opinião, e logo o insulto se sobrepõe a qualquer vontade de discutir. Há quem nasça cheio de certezas, seguro de que o insulto o qualifica perante a ignorância que constrói à sua volta. 

Querem fazer-nos pensar que é normal agredir jornalistas. Utilizam as emoções para esconder a sua falta de capacidade para entender que as pessoas fazem o seu trabalho. Escondem-se perante um momento irrefletido para que acreditemos que, afinal, está ali uma boa pessoa, compreensiva e democrática, que acontece, “apenas”, ter tido um gesto onde acabou por agredir alguém. Como se o seu gesto não tivesse um significado que todos compreendemos e sabemos ler. Sabemos interpretar.

Querem fazer-nos pensar que é normal mandar calar quem tem direito à sua opinião, quem tem direito à defesa do seu nome. Há quem se levante para bater no peito pela Liberdade (essa mesmo, de caixa alta) e depois teça considerandos sobre o direito às palavras dos outros. Há quem se agarre ao excerto certo do regimento para arregimentar silêncio, esquecido que, como escreveu Sophia, “vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar”.

Querem, ainda, fazer-nos pensar que é normal ameaçar quem luta pela liberdade, enviando-lhes balas ou armas, como vem acontecendo em Espanha. Fazer-nos pensar que é normal matar pela defesa do reduto. Fazer-nos pensar que é normal denegrir quem pensa diferente de si, marcar que é diferente de si, colocar meio mundo contra o outro, para que do caos nasça algum tipo de salvação. Quem se satisfaz a lançar fogos não quer saber de quem vai acabar queimado na fogueira. 

Mas não. Não é normal. Não é normal insultar, não é normal agredir, não é normal censurar, não é normal ameaçar. Não é normal querer regredir no tempo, para um tempo onde se dita, se prende, se mata, para assegurar o controlo e o poder nas mãos de gente frágil e insegura da força dos seus pensamentos. Não é normal e dizemo-lo. Não é normal.