Este espelho que engana

Este espelho que engana está mesmo à frente da nossa face. Um espelho onde vemos o mundo, com os seus erros e falhas agigantando-se aos nossos olhos, as nossas fragilidades exacerbadas, os caminhos de fuga mais estreitos que o desajeitado tamanho dos nossos pés. É daí que nos transformamos em alertas de insegurança constante, procurando bulhas e guerras onde deveria haver espaço para a reflexão e convergência.

La reproduction interdite - René Magritte


Este espelho que engana e manipula a nossa mente. Uma varanda para uma perfeição inexistente, que apenas serve para reforçar o quão longe estamos de alcançar aquilo que desejávamos. Um miradouro para as nossas ambições caídas, quotidianamente deixando a pretensão de fazer diferente, fazer melhor. É por aí que todas as notícias do falhanço parecem crescer e desenvolver-se, passando ao lado da nossa atenção a grande maioria das coisas que continuam a funcionar. 

Para o afastar, este espelho, não temos que o quebrar, nem exercer o máximo da nossa força. Decididamente, afastar-nos-emos no ritmo certo que o tornará incapaz de nos ferir com o deformar da realidade. Para não cedermos de forma tão fácil à indignação que só dá voz ao que rejeitamos. Para não nos perdermos na falta de ar que nos causa uma enxurrada de visões negativas daquilo que nos rodeia. Para não perdermos nunca a noção de que mesmo nas semanas mais difíceis, quando tanta coisa parece perder o sentido, é ainda a nós próprios que nos cabe encontrar o equilíbrio para seguir caminho.