“Político, lo fui siempre: soy fruto del progreso social”
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| Foto de Isabel Silva |
Por vezes acordamos e estamos numa ilha. Uma ilha onde as pontes, que pareciam fortes, que pareciam terra, deixaram de existir. A solidão da razão não é, propriamente, um bom lugar para se estar, em termos emocionais. Naturalmente és levado a duvidar, empurrado para rever cada passo onde a culpa possa ter sido tua. Demora-se muito a perceber que estar numa ilha não é sinónimo de estarmos isolados. Temos que trabalhar para voltar a juntar a terra, esperar que ela solidifique, para que as pontes e as ligações se restabeleçam.
Todos os processos levam o seu tempo. Pode parecer brusco encontrares-te fora de um lugar que sentias teu. Pode levar-te a perder o controlo que imaginavas ter construído. Mas ao mesmo tempo, dessa brusquidão nasce a oportunidade. Começas a olhar em volta, a perceber o horizonte. O que pensavas ser o reino do teu domínio, é agora um campo aberto onde voltas a entender o que tens por perto, o que queres tocar, como te irás encontrar. Quem pensa que te isola numa ilha, pensa mal. Todos temos a capacidade de nos refazermos a partir do ponto onde nos deixam.
Os meses seguem-se uns aos outros e, na tua fragilidade, estás cada vez mais forte. Percebes agora melhor cada palavra ou gesto. Reconheces agora de uma forma mais completa tudo aquilo que te toca. Recuperas a visão para entender um mundo bem maior do que aquele onde te parecias ter fechado. Em campo aberto, exposto aos ventos, não hesitas ainda assim em caminhar nessa busca que é tua, que constróis perante o teu entendimento, que elaboras com a paciência de quem não tem assim tanta pressa de chegar ao destino, a um destino. Por vezes acordamos e estamos num imenso continente onde todos os lugares são possíveis de alcançar. E não te podes calar.