Nascer para algo parece, tantas vezes, uma condenação, um peso que carregamos como se o momento do nascimento nos tivesse empurrado para fazer ou ser alguma coisa que não estamos bem certos de querer. Para mais, o nascer para algo parece ser um quadro que se fecha, algo demasiado concreto, difícil de aceitar quando ainda estamos em descoberta.
Será por isso que tanto queremos fugir desse destino que nos marca. Escapar à inevitabilidade dá uns ares bem mais heróicos, de quem pode mudar o mundo a que foi entregue ou de quem se nega a aceitar as certezas que lhe vendem. Mas nascer para algo pode bem ser outra coisa. Nem tão negativa, nem tão concreta. Pouco ou nada fechada. Pode-se nascer para um caminho, por exemplo.
Para um caminho que se faça de contrariedades, descobertas, desilusões e aceitações. Para um caminho que nos permite reencontrar, exatamente, aquilo para que se nasceu, aquilo para que se foi educado, mesmo que ambos os processos possam dar-se de forma pouco planeada ou concretizar-se bem para lá de vontades definidas. Quando nos apercebemos que nascemos para algo que estamos a ser ou a fazer, o nó dá-se. E pode-se ser herói por aprender, finalmente, a dar um nó nos atacadores dos sapatos.