A Europa é redonda (12)


O facto da braçadeira de Manuel Neuer perturbar é a prova de que a igualdade incomoda muita gente. A braçadeira arco-íris, destacando estarmos no mês do Orgulho LGBT, amanhece como um agente provocador, quando, na verdade, deveria ser um sinal de respeito pela identidade de todos. O capitão alemão e a Federação alemã trazem para o palco do Euro um esforço que tem sido comum a muitos conjuntos do campeonato local. Um país onde as tensões de violência e discriminação são latentes, é também um país onde muitos elevam a voz no respeito pelos direitos humanos. 

Não há forma de separar o futebol de tudo aquilo que acontece na sociedade. Não há forma de entender o futebol e um campeonato que reúne vinte e quatro países do continente europeu como um acto não-político. Daí que os esforços que a UEFA faz para a separação das águas pareçam, tantas vezes, deslocados dos sentimentos dos adeptos. Numa Hungria onde o investimento no futebol tem sido realizado com controlo governamental, procurando exercer-se como arma mediática para o reforço de discursos e práticas nacionalistas, uma bancada cheia de adeptos organizados só quebra as regras quando insulta ou desfralda uma bandeira discriminatória. A defesa dos direitos humanos, no entanto, parece mais propícia a enquadrar-se para uma investigação - que, naturalmente, terminou com o reconhecimento de se tratar de uma boa causa. 

Precisamos de entender porque é que tanta gente, fechada no pequeno universo dos seus telemóveis e computadores pessoais, se sente incomodada com uma braçadeira. Precisamos de entender como são exacerbados os sentimentos de repulsa da diferença, através de discursos que transformam pormenores em evidências de enormes teorias da conspiração. Precisamos de compreender como chegamos a essas pessoas, dialogamos com elas, as trazemos de volta para uma vida comum, em sociedade, onde cada um pode expressar os seus medos e as suas ambições. A braçadeira de Neuer é apenas uma parte do caminho. Convencer a UEFA de que este trabalho é imprescindível para a manutenção do futebol como um elemento agregador de pessoas de todo o mundo é o passo que se segue.