A Europa é redonda (20)


De volta a casa. Não é por ser a pátria do futebol. É por ser o local onde o futebol tem um encanto impregnado de forma intensa em todas as suas manifestações. Em Inglaterra não se inventou só o jogo, inventou-se a forma de o viver. Com o respeito e o reconhecimento pleno de admiração por todos aqueles que o queriam jogar. Com a intenção de buscar para o jogo o máximo de atenção possível. Com a crença, nos momentos em que o futebol se industrializou, que um outro futebol é desejável. Dos mais ricos aos mais voluntariosos, Inglaterra é o lugar onde acontece futebol. 

Wembley é, assim, o palco preferencial de exibição desta dedicação. Gareth Southgate um líder tranquilo com o condão e a obrigação de reescrever a história. O homem que falhou um penálti que deveria ter levado a equipa a uma final, conduz agora um grupo de homens ao mesmo objetivo. Singular, também, que pelo caminho voltasse a estar a Alemanha. E a forma como ontem se jogou naquele relvado foi futebol de todas as formas que o futebol pode ser jogado e vivido. Com o medo de que as coisas não fossem como sonhadas. Com a busca incessante de ser melhor. Com a capacidade para transformar em golo momentos de genialidade. Com o dramatismo exigível aos dias que vão ficar para sempre. 

Viver algo como este Inglaterra - Alemanha, por dentro, é um orgulho. Saber que essa oportunidade se reflete, ainda, em tantos que muito trabalharam para o conseguir, uma responsabilidade. Lembro-me de como vi o jogo de 1966, tantas vezes, numa velha cassete VHS. Lembro-me de ver o jogo de 1990 ainda longe de perceber o impacto da rivalidade. Senti, perante o jogo de 1996, que as coisas, aparentemente, seguem sempre o mesmo caminho. Mas não, as coisas mudam. E mudar pode ser voltar a casa. A um lugar onde nos sentimos nós próprios. Onde rimos e festejamos. Como os ingleses na bancada. Como eu a comentar o que vi acontecer.