A Europa é redonda (4)

A Europa é redonda, a lógica não. Quebra-se perante o nosso olhar quando menos esperamos. O primeiro sábado de Europeu era também o primeiro dia com três jogos. Tudo preparado para uma tarde-noite a ver futebol, a celebrar a vida. Uma vida que pode desfazer-se em segundos, numa queda que não percebemos, mas que nos assusta e inquieta de imediato. Não é natural. Não é o expectável. Não queremos acreditar. 

A humanidade revela-se nos momentos de tragédia. A corrida de Kjaer para salvaguardar Eriksen antes que a reação rápida dos médicos chegasse junto do camisola 10 dinamarquês. A força de Thomas Delaney a organizar um muro de jogadores para resguardar o esforço de vida do seu companheiro. Os adeptos que cederam bandeiras. Isto perante os olhares assustados de tantos pelas bancadas do Parken, em Copenhaga. Perante o mundo a desabar debaixo dos pés da companheira de Eriksen. Perante o não saber o que dizer, quando tudo o que se nos pedia era silêncio.

Celebremos, no entanto, a vida. Christian Eriksen abandonou o estádio já consciente. A sua situação foi controlada no hospital, de onde pôde sossegar os seus companheiros de seleção. A opção acabou por pender para se completar a partida que ninguém esquecerá, pelas piores razões. A cabeça dos jogadores da Dinamarca não estava ali, mesmo que Kasper Schmeichel, momentos antes do reinício da partida, tenha distribuído abraços e incentivos por toda a comitiva. A equipa da Finlândia deu um sinal de grandeza, aplaudindo os seus adversários. Mas no jogo jogado, um remate apenas serviu-lhe para vencer na sua estreia em grandes competições internacionais. O futebol, essa coisa que não percebemos, essa coisa que nos encanta, essa coisa que nos ensina, a cada passo, a seguir com a nossa vida.