A Europa é redonda (6)

Não foram precisos muitos minutos a olhar para o Espanha - Suécia no ecrã para perceber a dissonante viagem no tempo. Rodri jogava com a camisola dentro dos calções. A rara imagem era acentuada pelo contraste das cores, o vermelho da camisola, o azul escuro dos calções. A Rodri não bastava ocupar o lugar de Busquets, memória viva de uma Espanha imperial no campo de futebol. Não. Fazia-o com uma compostura assinalável, indicando o caminho correto à bola e ao equipamento. 

Não passaram assim tantos anos do tempo em que árbitros interrompiam as partidas obrigando os jogadores a compor a camisola por dentro dos calções. Deixá-la de fora era uma rebeldia não permitida. Até nos jogos entre crianças e jovens os árbitros passam mais tempo a avisar para a vestimenta do que a apitar faltas. Rodri, hoje, faz-se rebelde pela correção. Demonstra como arrumar o equipamento pode ser um primeiro passo para arrumar o jogo. E como dominou esta Espanha…

É, no entanto, irónico, que numa época em que as camisolas são feitas à medida para andarem livres de elásticos, ao jogo se façam tantas exigências de o tornar correto. O sofrimento sueco debaixo dos 32 graus de Sevilha, para resguardar o zero a zero frente aos favoritos espanhóis, é hoje visto com desdém. Já não se pode ser fraco no futebol, é preciso olhar nos olhos o rival, mesmo quando sabemos que não os podemos bater no mesmo tabuleiro. Segurar o empate foi, assim, a resposta a quem viaja no tempo da correção. Perante o domínio e o aprumo de Rodri, a dominar quase todas as etapas da contenda, a intuição de um esforçado Robin Olsen para assegurar a saudável imprevisibilidade do jogo.