A Europa é redonda (21)

“Creio que o treinador deveria estar sempre em segundo plano”. Di-lo Roberto Martínez, selecionador da Bélgica, algo que dificilmente ouviríamos da boca de um candidato a treinador. A ordem cultural atual colocou os treinadores no centro mediático do jogo. A ideia do futebol parida num modelo computadorizado, onde o treinador tem o comando para definir o que cada peça faz, ignora a dimensão humana do mesmo. Preparar para o contexto não retira a capacidade de decisão de quem joga: o jogador.

“São dez jogadores de campo, um guarda-redes, as mesmas dimensões do campo. Tudo está inventado”. Tal como a natureza cíclica das tendências de aproximação ao desafio. A história do futebol constrói-se numa dinâmica de opção e resposta, onde cada tendência vencedora é a própria origem da estratégia que a tenta anular. O futebol é o jogo onde nunca encontramos nem uma forma, nem uma fórmula, definitiva. Por isso de pouco vale o ter ganho ontem, se não formos capazes de nos reinventar hoje. Ganhar é a véspera de perder.

“O atlético purifica o técnico”. Não existe jogo coletivo sem dimensão física. O talento é uma expressão da fisicalidade do atleta. Enganamo-nos demasiadas vezes a procurar no passado uma resposta para as expressões menos apetecíveis de um futebol que se quer arte. Mesmo aqueles que viveram do seu talento e expressão com bola, fizeram-no porque eram mais fortes, também nas capacidades físicas, do que os seus adversários. Não foi o jogo que mudou em busca de uma realidade atlética. Foi o humano que não parou nunca de se desenvolver. E o futebol, entidade viva, não quer morrer. 


*Citações da entrevista de Roberto Martínez ao jornal El País