Num mundo onde tudo parece estar posto ao princípio da exclusão, onde para se ser uma coisa não se pode ser outra, o futebol sobressai como um desafio a ordens que se querem estabelecer. Este Europeu tem sido uma excelente oportunidade para entender as fragilidades de ver tudo como uma dicotomia. As várias partidas a eliminar trouxeram-nos de volta o jogo enquanto divertimento. Pela forma como se disputaram, pela incerteza nos resultados, pela beleza do esforço coletivo e individual. E, ainda assim, o vivenciar desse prazer não nos obriga a ignorar a natureza complexa das decisões envolvidas numa partida de futebol.
O futebol é um exercício prático, onde um elemento de comportamento aleatório, a bola, procura ser controlada por equipas antagonistas. Ao mesmo tempo, é um exercício teórico, onde as diversas possibilidades, seja para controlar a bola, seja para controlar o espaço onde ela se desloca, estão constantemente a ser colocadas à prova. Este confronto de dimensões permite-se a ser vivenciado nas diferentes camadas oferecidas. Como se fosse um poema perfeito. Faz-nos admirá-lo pela simplicidade da sua proposta mais visível, mas permite-nos mergulhar nele para entender a complexidade da sua construção.
O esforço que alguns tentam fazer para isolar o jogo apenas numa das suas dimensões é inglório e um desperdício de tempo. De nada nos vale querer prender um evento desta riqueza apenas num dos seus enquadramentos. Devemos, isso sim, conseguir dialogar nas diferentes dimensões que o jogo nos oferece. Porque a diversidade permite-nos perceber melhor aquilo que um jogo nos diz do futebol, tanto como entender aquilo que o futebol nos diz das vidas que vivemos. O princípio da inclusão torna-nos sempre pessoas melhores, seja a lidar com os outros, seja a ver um jogo.