Entende-se muitas vezes a via do diálogo como o espaço onde todos podem falar. No entanto, a parte essencial e tão esquecida passa pelo poder ouvir. Não nos resta, nas inúmeras tarefas que assumidos na vida, muito tempo para tal. O ter espaço para ouvir. O ter liberdade para entender o outro, naquilo que pensa, senta ou necessita. O ter o interesse para ler e refletir sobre aquele mundo que não decorre debaixo dos nossos olhos.
Esse espaço de escuta, parco ou inexistente, leva a inúmeros equívocos. A decisão que não se compreendeu, a ação que não se percebeu, a escolha que não se aceitou. Estamos sempre muito prontos para construir muros onde deveriam existir portas e janelas, territórios de comunhão e encontro, que visassem melhores soluções para as coisas que nos apoquentam. Como se pertencer a um lado implicasse diabolizar o outro.
Aprende-se muito a entender quem não concorda connosco, até pelo facto de muitas das nossas ideias serem construídas sobre equívocos que temos sobre quem vive perto de nós. A descoberta do diálogo como ponte onde se caminha entre duas margens é terreno essencial para uma nova riqueza que nos pode pertencer, assim deixemos de parte aquilo que nos trava a conhecer o mundo. Porque esse mundo está aí, na soleira das nossas casas, à espera para nos ouvir também.