Carta a Sara

Pintura de Ângela Ferreira 
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Por ser tão pouco certo o futuro, do qual nada sabemos e pouco podemos adivinhar, Sara, o conforto que o aqui, agora, se nos oferece - a ti, que nasces, a mim, que te encontro - é já algo de precioso que guardaremos para sempre. Essa é a aprendizagem que os anos nos trazem, quando caminhamos de olhos abertos, o que aquilo que já vimos acontecer nos diz algo importante do que nos acontecerá. Por secreto e entusiasmante e assustador que possa ser.

Da vida pouco ou nada te posso ensinar, eu que ainda aprendo a aprender, mas olhando em volta em breve verás como se compõem os elementos que nos fazem mundo. Uma coisa sei. As portas são para se abrir, os muros para derrubar, pois quanto mais os nossos olhos derem de beber ao pensamento, quantas leituras e reflexões nele se envolverem, mais claro ficará para ti, para nós, o passo que logo após haveremos de dar.

Muito matutei sobre o que te escrever e agora que o faço é isto, pouco ou mais que nada, um indicador que não indica, uma direção que se curva algures pelo caminho. Mas de poucas palavras precisamos para dizermos tudo aquilo que importa e o saber escutar é a melhor forma de afirmar o tanto que temos para dar aos outros. Porque é deles, também, o teu caminho e disso, asseguro-me, não esquecerás. Que do pouco se faz muito, tantas vezes, e o muito que temos se enriquece ao partilhar.