Imagem da reportagem vídeo de Rúben Tiago Pereira |
Há um Portugal que sobrevive longe dos olhos e do quotidiano e que insiste em revelar-se quando se larga o mesmo caminho que se percorre todos os dias. O trabalho do jornalista Hélder Gomes, publicado no Expresso desta semana, visita Moura e abre-nos as portas para uma realidade que tantas vezes se prefere ignorar a valorizar. Uma realidade construída de casos de pobreza extrema, racismo e incompreensão no seio de uma comunidade que acaba por se transformar num campo de batalha de um certo populismo que beneficia da miséria longínqua para exacerbar sentimentos de medo e ignorância.
Este Portugal não é, no entanto, exclusivo dessa distância ou do abandonado interior. É um Portugal que resiste ainda bem perto das nossas casas e vive um pouco mais envergonhado, um pouco mais recatado, no seio de cidades e concelhos que prometem outros sonhos a quem lá vive. A forma como ainda se mantém discursos de exclusão, a insistência em marcar como irrecuperáveis aqueles que passam por dificuldades e o alimentar de discursos que reforçam o conflito inundam a nossa realidade sem que pareçamos atentos à forma como nos tocam.
É por isso fundamental que, para lá do que é o período eleitoral que nos aprestamos a viver, encontremos formas sólidas de construir comunidade. Aliás, este será um tempo correto para conseguir estabelecer pontes de discussão e entendimento entre forças que, em detrimento das pequenas guerras que se criam, sabemos já que terão que colaborar para termos um poder local forte e uma qualidade de vida em crescendo nos locais onde vivemos. A contabilização dos resultados finais interessará a muita gente, mas beneficiará pouco as populações, se esses números não se transformarem em capacidade de entender o que um território precisa para se afirmar.