Política e Legado: as confusões habituais


O momento de pré-campanha eleitoral nas Autárquicas remete-nos sempre para uma janela onde a dificuldade de se estabelecer as bases de debate político se acentuam. Em municípios onde o poder se instalou há demasiados anos, as visões de futuro estagnaram nos projetos que se repetem por diversas eleições, ao mesmo tempo que se confunde aquilo que é ação política (que se confina aos eleitos nos executivos e assembleias municipais e de freguesia) e o que é ação técnica (que pertence a todo o município, através dos funcionários da autarquia e das suas empresas municipais). 

Essa confusão ressalta quando temos responsáveis políticos que pretendem transformar um período de discussão pública de um projeto em tema de campanha. É um erro comum de quem confunde poder local com democracia local. Tenta transformar o debate numa discussão técnica, lançando ao barulho o trabalho de funcionários da Câmara Municipal, como se esse trabalho fosse um pertence exclusivo dos eleitos de um determinado partido. Assim, aquilo que é um bem que a todos pertence, acaba por se transformar numa bandeira de uma das listas que concorre às próximas eleições. A democracia local exige um outro tipo de discussão, um debate aberto, de ideias, que se faça nos princípios políticos e não escondendo-se na competência de técnicos que não estão em eleições. 

Mas essa confusão percebe-se melhor quando nestas forças políticas o poder de anos acabou por transformar a autarquia em partido e este, quebrado, transparece no seu próprio legado. O partido está assim dividido numa discussão feita em páginas de jornais, onde quem já não é Presidente da Câmara defende as suas ideias que ficaram pelo caminho e quem pretende ser Presidente falando de continuidade transformou as suas opções numa dissidência em relação ao que antes fora proposto. É nesta confusão que se percebe que o que realmente importa é perceber quem dá a cara por um projeto, com cabeça, tronco e membros, e se dispõe a discuti-lo de forma aberta, defendendo e servindo os interesses de quem vive no Concelho. Nem sempre será fácil percebê-lo, quando o tamanho da letra é demasiado pequeno, mas as formas de ler o que acontece estão à mão de todos aqueles que pretendem ficar informados.