Um ar que se respira


A vida política local é feita de pequenos lugares de conforto. No topo, um par de santos republicanos consolidados por sucessivas reeleições. Um manto que se estende por pretendentes aos seus favores ocupa boa parte do território, onde pululam aqueles que são do contra, os que se revelam contra os do contra, umas conversetas no largo, umas traulitadas no jornal, um irmão ou um herdeiro muito ciente das suas anteriores conquistas. Este ecossistema raramente é colocado em causa porque serve a toda a gente. Àqueles que o poder alimenta e àqueles a quem o poder serve para reclamar da falta de alimentação. 

Quando um movimento de cem cidadãos dá a cara para desfazer essa teia imutável, todos sentem o seu lugar colocado em causa. Nunca tinha estado nos planos de ninguém sentar à mesma mesa quem pensava diferente para, num ato de rebeldia, procurar soluções para os problemas existentes. Nunca tinha estado nos planos de ninguém expor-se ao contraditório, dando voz aos que nunca tiveram possibilidade de esclarecer as suas ambições perante o poder instituído. Nunca tinha estado nos planos de ninguém fazer com que a democracia funcione, dando mais poder às freguesias, mais espaço aos empresários, mais opções aos cidadãos, mais perspetivas a todos. 

Por isso o ar se torna, no imediato, bastante mais respirável. Por isso se pode caminhar nas ruas e encontrar quem não esconda a sua opinião. Por isso se visita o comércio, as empresas, instituições sociais e associações, encontrando vontade de um novo quadro de relações entre o município e as populações, que promova quem quer fazer, que ajude quem precisa, que apoie quem investe, protejendo e servindo. Só o facto de se ter rompido com a habitual lengalenga do isto nunca vai mudar é já uma mudança. O primeiro passo para que um segundo se concretize.