A preservação da democracia em período eleitoral


O início da campanha eleitoral autárquica devolve-nos as atitudes do costume, de quem vê na vida democrática a expressão de uma banalidade clubística a jogar pela vida num qualquer campeonato. É singular que em detrimento dos projetos e ideias que têm para o concelho - já não digo os próprios, mas as forças que representam - se preocupem sobretudo com o ganhar a qualquer custo, como se vencer uma eleição fosse conquistar um emprego num concurso promovido por marca comercial. 

No fundo, é a utilização das eleições como espaço que deteriora a própria vida democrática. Isso não se vê apenas na mediocridade de certos discursos. Também se vê na maneira como muitos utilizam os discursos menos aptos para transformar participação em piada. Começa por acontecer com cartazes, passa pelos vídeos de promoção, acaba nos debates. Há sempre alguém que não cumpre as “regras” e acaba transformado em meme. Mas nesse caminho afastamos da discussão muita população que, de facto, só quer ser ouvida nas suas ambições. 

Se nestes dois casos os ferimentos causados à vida democrática são realizados sem intencionalidade, outros há que procuram desapropriar cidadãos de concorrerem livremente a umas eleições. A forma como se atacam abertamente candidatos, por vezes através de linguagem excessivamente violenta, é um ataque aberto à democracia. Uma vez mais, eleições são momentos de confronto de projetos e de capacidades para os cumprir. Quem não entende que numa democracia, nestes momentos, tanto se fala como se ouve, está a aproveitar-se das populações para lhes retirar a voz. 


Fotografia de Nanni Moretti em frente a um quadro de Rachel Jones.