Um rio de peixes mortos e a questão ambiental

Foto retirada do Facebook de António Ginja, retratando os peixes mortos no Açude da Granja, em Runa. 

Um rio que cheira mal a servir de leito para dezenas de peixes mortos é um facto ao qual ninguém pode fechar os olhos. Um acontecimento que não precisa de grandes interpretações para perceber o problema que temos pela frente. O principal rio do Concelho de Torres Vedras, o Sizandro, continua a ser vítima de crimes ambientais, crimes que nos afetam a todos, pela sua natureza pública e pelas suas consequências nefastas para a economia, o turismo e a qualidade de vida no nosso concelho. O acontecimento teve a infeliz coincidência com o anúncio de um prémio sobre o trabalho nesse mesmo rio, com essa mesma comunidade de peixes, o Ruivaco do Oeste, que acaba o fim-de-semana ser notícia pelas piores razões. 

Não foi por falta de aviso. Quem, no final desta semana, tomar em mãos o pelouro do Ambiente no Município de Torres Vedras terá uma pesada herança para arcar. Conseguir fazer conciliar o bom trabalho que levou a que o Município fosse reconhecido com vários prémios nesta área, com uma realidade que deixa tudo a desejar. Não é só o Rio Sizandro que tem sido alvo de diferentes alertas por parte da população, também o Alcabrichel é território de dúvidas lançadas quer pela população, quer por empresas que dele dependem. É que a questão ambiental, como está hoje colocada em cima da mesa de todos os governos da Europa, não é uma questão isolada. É o tema que ocupa a sala e que exige uma ação determinada com elevadas consequências para o futuro do mundo, dos territórios onde vivemos, das pessoas que queremos ser e da economia onde teremos que continuar a evoluir.

Como Laurence Tubiana, CEO da European Climate Foundation, colocava num extenso artigo do site Le Grand Continent sobre ecologia e o Pacto Europeu para o Clima, “o debate sobre a natureza da mudança climática e as visões para o futuro - ainda largamente abstratas - são sobretudo tecnológicas” e questiona-se como pode desenvolver-se uma alteração coletiva no seio de sociedades fragmentadas. Propostas concretas que lançam a questão ambiental são ainda vistas, de forma jocosa, como “utopias” ou “ausência de preocupação clara com o ambiente”. Mas, voltando ao Sizandro e à morte de dezenas de Ruivacos do Oeste, ou passando à Paúl e ao tristemente célebre processo da Estação de Transferência de Resíduos Urbanos, é olhando o futuro e lançando a discussão com essa visão de ação concreta que alcançaremos resultados. De pouco nos valerão os muitos prémios se, no final, o Concelho continuar a ter, no seu quotidiano, problemas ambientais que não merecem capacidade de resposta da parte das autoridades.