O efeito e o conteúdo



Numa sociedade controlada pelo efeito das mensagens, mais do que pelo seu conteúdo, cada dia somos colocados perante pequenas ratoeiras que nos levam a reagir ao primeiro sem compreender o segundo. Pior, muitas das vezes, a reação que se faz ao efeito de uma mensagem leva-nos a crer que estamos a reagir ao seu conteúdo, quando isso, de facto, não está a acontecer. Entre o nosso foco de atenção para um assunto determinado e a média de atenção dada pela média das restantes pessoas presentes no debate há um fosso, muitas vezes, inultrapassável.

O efeito mede-se, hoje, de forma quantitativa, na capacidade de gerar “gostos”, “partilhas” e “comentários”, transformando-se em fluxo tudo o que é produzido em redor da mensagem. Na medição quantitativa do efeito é verdade a velha máxima, “mal ou bem, o que interessa é que falem de mim”. Esses números podem depois ser medidos de forma qualitativa. Nos grandes meios, quem gera mais números, acaba por ter mais espaço para elaborar a sua mensagem. É uma espécie de contramão do nexo do pensamento. Primeiro captamos o efeito, depois desenvolvemos o conteúdo. A casa constrói-se a partir do telhado. 

É aqui que alguns de nós são apanhados na onda. Pensando que estamos a discutir o conteúdo de uma mensagem, acabamos apanhados a transformá-la rumo ao aumento do efeito que a mesma acaba por ter. E na nossa audiência, convençam-se, estão sobretudo pessoas que “gostam”, “partilham” e “comentam” sem ler ou aprofundar o que ali é descrito. Perceber a forma como efeito e conteúdo se alinham e desenvolvem nos nossos dias é um ponto de partida essencial para compreender como participamos na vida pública. Algo fundamental nas nossas conversas de café, na nossa presença nas redes sociais, em todo lado, sobretudo num momento em que voltamos a preparar-nos a ir às urnas para decidir sobre o futuro da governação do nosso país.