O tamanho daquilo que sou


Quando pensamos muito sobre a forma como fazemos as coisas, é fácil que aquilo que fazemos acabe por parecer sempre algo de menor. Os acontecimentos não tendem para superar as reflexões, pelo tempo e pelo desenvolvimento que o pensamento permite, em detrimento daquilo que conseguimos, realmente, fazer. Esse é talvez o maior problema com o qual temos que lidar no processo de nos assumirmos enquanto aquilo que somos. Não tender para nos sentirmos menores do que aquilo que somos - sendo que o risco contrário, também existe, em quem faz muito mais do que reflete. 

Em certas organizações essa menorização é, para além do mais, um modo de vida. Ao cortarem-se as linhas para que possas desenvolver a tua existência dentro de uma estrutura, mantendo-te apenas limitado àquilo que foi pré-delineado para a tua presença, criam-se as condições para aumentar a incerteza pessoal e a dependência do coletivo. Terminar com esse enquadramento é uma assunção do que pode ser realizado e uma abertura de possibilidades para crescer em discussão e em visão das coisas.

O meu 2021 foi um processo de confronto. Confronto com as minhas crenças, com a minha necessidade de contribuir para um bem comum, com a forma como se criam diálogos e se desenham estratégias para o lugar onde vivemos. Foi um ano de tensões, um ano de sofrimentos e aprendizagens, mas, acima de tudo, um ano para assumir um equilíbrio muito pessoal entre aquilo que se reflete, aquilo que é pensamento, e aquilo que se faz. Perante a equação que me foi colocada, tive respostas. Um processo complexo mesmo quando, na aparência, tudo seja simples. 

Não sou propriamente a pessoa certa para alimentar uma visão excessivamente positiva das coisas. Não acredito que a motivação seja um processo de confiança cega nas nossas possibilidades. Não percebo os espaços de desenvolvimento onde não existam contrariedades, discussão, análise. Tudo isso torna o trabalhar comigo também um processo de exigência para quem o faz. Porque acabo por não facilitar. Porque acabo por querer ter a capacidade de desenhar o mapa enquanto se desbrava o mato que esconde o caminho. Ter a noção de cada passo é, para mim, essencial, para alcançarmos aquilo a que nos propomos. 

Em 2021 propus-me à mudança e é à mudança que permaneço fiel. O processo em que me envolvo é o de análise e questionamento das coisas que se fazem no meu concelho, no meu país, no mundo, e o meu contributo será sempre o de questionar a forma como as decisões se tomam. Sou consistente comigo mesmo. O diálogo e o entendimento que prego é aquele que defendo, a transparência que desejo é aquela que me exijo, a dureza com que assumo determinados combates é a mesma que me aplico a mim mesmo. Abrir-me a mim próprio, abrindo-me ao mundo, ser mais completo na forma como me entendo. 

Quando pensamos muito sobre a forma como fazemos as coisas, acabamos mesmo por estar mais bem preparados para os inesperados da vida. E continuo sem saber nada, sem ter certeza de nada, sem me orgulhar demasiado daquilo que vou fazendo. Porque ainda quero fazer mais e ainda quero pensar mais sobre aquilo que faço. E neste processo, sou eu - e não ninguém que se tente apropriar de mim - quem determina o tamanho daquilo que sou.