A ilusão do controlo e da eficiência


Ao longo de séculos foi-nos inculcada a ideia de existir, acima de nós, uma organização com capacidade para controlar de forma eficiente o modo como vivemos e trabalhamos. Uma ideia que pretendia, de alguma forma, oferecer-nos a segurança de sabermos que alguém estaria a velar por nós. No entanto, esta também foi uma ideia que nos levou, ao longo dos tempos, a questionar de que maneira esse controlo era realizado. 

Nos nossos dias, essa ideia mantém-se - e talvez seja este o momento em que haverá mais razão para questionar as formas como nos controlam. A evolução da tecnologia e da sociedade em rede permitiu coligir dados suficientes para que isso, de facto, se transforme de uma ficção em realidade. Mas ao mesmo tempo a ideia de controlo e eficiência resiste como um mito que atribuímos a organizações que desconhecemos.

No debate político, partidos e organizações públicas debatem, discutem e exigem uns dos outros, como se todas as estruturas em questão fossem um exemplo de organização, com total capacidade de controlo sobre as ferramentas e as pessoas envolvidas e com uma eficiência inquestionável no que toca às suas decisões e ações. Debate-se como se cada elemento participante do mesmo fosse infalível. 

É por isso que quem governa é tratado como uma máquina que não pode falhar, quem se opõe é visto como uma estrutura que só pode estar centrada na sua missão, quem assiste apontando facilmente as lacunas nos outros mas não entendendo como as suas fragilidades são também as fragilidades do outro. Por isso não existem partidos onde a organização seja um primor, nem ação humana sem erro, nem estrutura noticiosa que exerça o seu controlo de forma brutal sobre a atualidade. 

A ilusão do controlo e da eficiência é uma falácia que nos persegue e que trai muitas das discussões onde nos envolvemos. Porque estamos no contexto das ações humanas e a humanidade, trabalhando com as ferramentas que pode, tenta fazer o melhor, mas sem evitar os falhanços naturais da incapacidade de ter a visão global pormenorizada do que está a acontecer. Talvez chegássemos a melhores conclusões sobre as capacidades dos outros se os entendêssemos como iguais a nós. Que é aquilo que são.