Se no desporto o jogo está delimitado no espaço e no tempo, na política essas fronteiras são mais difíceis de encerrar. Existindo uma comparação, uma decisão numa final de uma taça seria o equivalente ao dia de eleições, mas onde aquilo que se faz previamente obedece a um rol de condicionantes bem diferentes. Para se chegar à final da taça, compete-se num número de jogos de regras semelhantes até se apurar os finalistas. Para se chegar ao dia das eleições, o caminho é bastante mais atribulado.
Puxando esse período para o da pré-campanha eleitoral e focando-nos nos debates televisivos, percebemos que a delimitação das regras pensadas para as Legislativas 2022 sugerem a que estratégias muito diferentes sejam utilizadas. Não será de todo democrático, mas sobretudo mediático, ter apenas um debate de 75 minutos entre os dois putativos vencedores da contenda (no fundo, um debate de primeiro-ministros). Para os debates de 25 minutos, ficaram guardados os temas parlamentares, a arrumação das forças e das eventuais coligações a fazer.
A forma como cada um aborda esta curta intervenção dir-nos-á algo sobre as suas capacidades para criar soundbites numa entrevista rápida, mas dificilmente nos esclarecerá sobre o seu programa. Ainda assim, a grande maioria daqueles que vão votar optarão por ficar apenas por estes curtos espaços para construir a sua ideia de esclarecimento. O que nos leva a perceber porque é que António Costa repetiu ontem tantas vezes a palavra maioria, como nos leva a entender porque é que André Ventura apenas quer quebrar o efeito do debate para se tornar num longo urro de comiseração. Cada um ocupa o espaço mediático conforme entende a sua capacidade para mudar o domínio do jogo.
A ausência da CDU dos debates dos canais por cabo, apresentada como forma de protesto, acaba também por ser uma estratégia de acomodação ao contexto em que se revê. Jerónimo de Sousa não será propriamente o melhor candidato para o estilo de debate aqui exigido e optar pela defesa é uma forma de ganhar armas para o ataque - a lama expelida no confronto BE v Chega pode dar ânimo a quem não se vai sujar neste modelo, mas é uma alegria contida entre as poucas pessoas que percebem porque é que a CDU não estará nos debates. A grande maioria vai ignorar as razões e ficar apenas no silêncio quanto à sua participação nesta corrida.
Ainda assim, aquilo que é fundamental perceber é que os debates não são o jogo. Ganhar ou perder entrevistas rápidas não nos diz nada sobre a capacidade de cada uma das forças em questão, nem nos esclarece minimamente sobre a forma como irão enfrentar os problemas que lhes serão colocados quando forem eleitos. Daí que seria bom apostarmos também em espaços mais pedagógicos. A existência da ARtv permitir-nos-ia, num meio acessível a todos, fornecer momentos de clarificação sobre programas e quadros eleitorais saídos das eleições. Porque a democracia, ainda que mediática, também tem que ser, sobretudo no domínio eleitoral, o momento em que nos dispomos a entender aquilo que nos vai afetar no futuro próximo.