Em 2022, as promessas feitas para o novo ano terão outro tipo de exigência e responsabilização. Com a entrada num processo eleitoral e a realização de eleições a 30 de janeiro, mais do que as promessas, interessa-nos entender quais as ideias que existem para o país, como elas serão colcoadas em prática e como podemos elaborar, a partir daí, o nosso processo de decisão. Curiosamente, numa sociedade cada vez mais mediatizada, mas também mais cacofónica, parece agora mais difícil de perceber como usar o nosso voto.
Serão umas eleições legislativas marcadas pelo passado. O Presidente da República procura gerir o processo em busca de uma consistência que foi deitada para trás pelo atual Governo, ao não conseguir um entendimento com as forças que o apoiavam. Mas, por outro lado, o quadro da oposição oferece-nos um outro tipo de liderança, uma que tem sido construída sempre sobre pequenas ações de guerra interna, não chegando daí qualquer garantia de segurança.
Os eleitores são empurrados a decidir, assim, a partir de ações passadas, sendo que os debates televisivos onde se fundam boa parte das crenças acerca dos programas dos partidos não nos oferecem um plano real daquilo que acontecerá no pós-eleições. Somos levados a crer que a política é um jogo de gritos entre duas pessoas, quando o exercício real é bastante diferente: criar uma equipa governamental e um quadro de apoio parlamentar sólido para quatro anos.
Andoni Iraola, treinador de futebol, escreveu um texto onde destaca a importância de tomar decisões e de errarmos. “A única forma de te colocares à prova é quando as balas são verdadeiras”. Na campanha eleitoral, vai faltar-nos esse momento. Mesmo que tenhamos a possibilidade de ler os programas eleitorais (façam-no!), mesmo que seja possível conversar com representantes dos diferentes partidos (procurem-no!), o exercício real não é possível de fazer. Por isso, também, é fundamental que a análise do processo eleitoral e governativo mude de tom. As escolhas, os caminhos, os desenvolvimentos, não são nunca definitivos nem fechados.
Participar nos processos, exigir transparências nos mesmos, buscar pontes de entendimento entre as diferentes forças concorrentes é a forma de vivermos melhor esclarecidos sobre aquilo que é o nosso país e sobre a maneira como devemos exercer o nosso direito de voto. E, pensem, não é algo assim tão desprezível e tão afastado das nossas vidas. Pelo contrário. São decisões e erros que influem diretamente nos processos que cada um de nós, individualmente, vai desenvolvendo. Tenham, por isso, atenção.