Olhe-se para a direita ou para a esquerda, a sensação global do cidadão que tem que decidir em quem votar é de desilusão. À parte os militantes, que pelas redes sociais vão ainda demonstrando capacidade para definir o seu rumo como o único certo para o caminho a tomar, a grande maioria da população portuguesa debate-se com a questão pessoal e intransmissível, em quem devo votar? E se a campanha ainda nem começou e os programas eleitorais só agora começam a estar disponíveis para uma consulta mais demorada, os debates televisivos pouco têm ajudado a tomar decisões.
Vive-se sobretudo de polémicas velhas. Fogachos para atirar ao ar, tipo foguete do qual ninguém se preocupará em apanhar as canas. A forma como se geriu Portugal nos últimos seis anos deixou uma parte substancial da população satisfeita, com as respostas conseguidas sobretudo na gestão da pandemia. Mas sabe-nos a pouco, se mesmo com essa curta satisfação o discurso geral nos continua a empurrar para a cauda de qualquer coisa que não percebemos bem o que é. Aqueles que prometem novidades, não nos conseguem clarificar aquilo que poderiam ter feito de diferente para estarmos, agora, em ponto de não desilusão.
No entanto, a gestão política, ao contrário das eleições, tem muito pouco de ilusão. Olham-se casos práticos, trabalham-se soluções, está-se obrigado a viver agarrado ao futuro. E quem nos oferece polémicas velhas não tem as respostas de esperança de que precisamos. Às tantas, andamos todos a fugir às evidências, a escapar às perguntas que nos podem levar a ser capazes de responder convenientemente. A desilusão que nos toma é bem capaz de empurrar muita gente para a abstenção, quando por aí não estamos mais do que a ceder à vontade da maioria. Saber resistir à beira do precipício é o tipo de dança a que nos devemos entregar no momento em que escavamos para encontrar a razão para votar nesta ou naquela força política.