Responsabilidade - entre o privado e o público


Assumir responsabilidade pelos seus atos é um exercício que mistura as fronteiras entre o que é público e o que é privado. Não se trata de algo que dependa, unicamente, do indivíduo. Caso assim fosse, aquilo que alguém diz valeria sempre como letra de lei, como ponto final de uma análise. Quando uma pessoa conclui algo sobre o seu percurso, não está a fechar a porta para as suas consequências. Está apenas a assumir o lado privado da responsabilidade. 

No lado público, a assunção de responsabilidades é sempre um encontro de partes. São várias as peças que contribuem para o quadro completo dos acontecimentos. Peças que, quando nos colocamos a discuti-las, correm o risco de não encaixar. Assim é, porque as várias peças privadas precisam de se moldar ao encontro entre si. A responsabilidade passa, então, por ser sempre um esforço de adaptação a um discurso comum. 

Ora, para participar desse esforço público, é preciso estar disponível para ele. Não basta entrar e sair conforme as conveniências, não basta exigir a defesa do seu contributo para completar o puzzle, não se precisa de entender que uma das partes, privada, tem que ter mais peso sobre as outras. Para participar desse esforço público, do conforto que é necessário para que todas as partes se mantenham ativas no seu caminho, é preciso abdicar de si para se encontrar com os outros. E só quando os atos refletem esse esforço é que o assumir de responsabilidades começa a ser produtivo.