Chocados pelas imagens e as notícias que hoje nos chegam em direto do coração da guerra, através da televisão, do computador ou do telemóvel, desfeitos pelas emoções dos milhões de vítimas inocentes de um conflito sobre o qual não têm o mínimo controlo, vagueamos por estes dias em busca de uma razão que nos leve a perceber porque é que o mundo não caminha pelos trilhos que pensávamos programados.
A evidência que nos oferece a guerra na Ucrânia lembra-nos, da maneira mais brutal, que não estamos no centro do mundo. As nossas ideias, a nossa cultura, não são maioritárias. Mesmo quando nos congratulamos com o número de países que aprovaram a resolução das Nações Unidas a condenar a ofensiva militar da Rússia em território ucraniano, percebemos que uma elevadíssima percentagem da população mundial viverá em países que não votaram ou se abstiveram na mesma (China, Índia, Paquistão, Bangladesh, Etiópia, Vietnam, Irão,…)
O dia 24 de fevereiro de 2022 marcou o início de uma invasão, mas também marca um período onde somos levados a perceber que o mundo não é plano. As leituras que tentamos fazer a partir do mundo ocidental têm estado sempre em conflito com as leituras que se fazem noutros pontos do mundo. A rede montada por uma economia comum não é uma rede que nos permita assegurar que a cultura é, também ela, a mesma. E mesmo quando acabamos por cair no erro de entender o mundo a partir de dois pólos (os bons contra os maus, os russos contra os americanos, por aí fora), perdemo-nos numa realidade que é bastante mais complexa do que aquela que conseguimos, por agora, ver.
Ao condenar a invasão ordenada por Vladimir Putin, não temos o direito de ignorar todas as ramificações que se encontram em território ucraniano, bem como não nos permitirá pensar que estará focado no Presidente da Federação Russa a energia de todo o mal. Combater quem contraria as regras de convivência entre países livres e independentes faz-se procurando muito mais do que um mero alvo. Encontrar maneira de circum-navegar este mundo de contradições é um esforço que temos de continuar a fazer.