O sentido de oportunidade


Cada evento é uma oportunidade que se abre para exercitarmos a nossa capacidade de escolha. Se, num primeiro esforço, tentamos encaixar esse evento no conjunto de factos e conhecimento que detemos por acumulação prévia, não nos devemos nunca esquecer que cada novo evento pode comportar, em si, a capacidade de alterar a existência prévia e os factos que conhecíamos. 

É por isso que, perante a oportunidade, não podemos ignorar o sentido que esta toma. Não podemos ignorar que no momento em que esta acontece, alteram-se dinâmicas e exigem-se respostas imediatas que podem fazer tremer o edifício teórico que criámos para o nosso conforto. Porque a teoria é o exercício que pode sempre ser alterado depois de passar pelo teste da prática. Não é um ato de génio que define a história como ela irá acontecer.

O Prof. Victor Jabouille dizia, nas suas aulas, que das vinte e três facadas dadas em Júlio César, só a última foi fatal. Obviamente, não há forma de confirmar a factualidade desta afirmação. O que podemos entender é que mesmo perante acontecimentos repetitivos, há um que ganha um significado diferente dos outros. Não podemos deixar de lidar com os acontecimentos pela forma como eles impactam o futuro, em lugar de estarmos constantemente à procura de perceber como eles impactam o passado.

O sentido de oportunidade pode permitir que, no fim do caminho, a prática possa ser integrada na teoria que defendíamos ao início. Numa lógica dinâmica e evolutiva, a teoria tenderá a reforçar-se através dos vários episódios que enfrenta. Temos é que saber, no momento da oportunidade, não contaminar o aparato teórico com más práticas que nos retirem corpo para enfrentar os momentos de apaziguamento. Uma teoria derrotada é bastante mais frágil do que uma teoria incompleta.