Sorria, é para os apanhados!


Deteriora-se o ambiente em que vivemos. As bombas caem sobre a cabeça do inocente povo ucraniano, mas a guerra generaliza-se nas ações de tantos outros por todo o mundo. O nosso olhar, a nossa atenção, não deixa de ser convocada por imagens de terror, mensagens violentas, discursos cada vez mais radicais e afastados de um humanismo que nos garantia a sensação de paz nos nossos pequenos mundos. 

Esta guerra não começou agora. Há anos que discursos violentos são patrocinados em ambientes fechados. Primeiro no desporto, onde uma certa violência foi sendo permitida como parte da ideia de competição. Depois na política, onde começou a ser aceite o tratamento destratado entre opositores. Finalmente em todo o espaço público, com o anonimato das redes sociais a ver cair a máscara nas conversas de café, nas relações entre vizinhos, no seio das famílias. 

A guerra contribui para o agudizar desta situação. Os discursos de Putin e Zelensky acentuam uma ideia de fragilidade do mundo ocidental. O Facebook e o Instagram aceitam apelos de violência no âmbito do conflito. Muitas pessoas vão largando as redes sociais vergadas pelo peso de uma constante troca de acusações entre defensores de verdades provisórias. Perde-se a noção de uma das formas de ajudarmos quem vive debaixo do terror das bombas é exatamente o aproveitar desse facto para pensarmos em como acabar com as bombas - não o transformamo-nos em granadas que explodem nas próprias mãos. 

De certa maneira, estamos todos à espera de mostrar aquele sorriso confuso e aliviado de quem surgia, sem ser convidado, no programa televisivo que todos conheciam pela frase repetida, “sorria, é para os apanhados!” Nada daquilo que sentimos parece fazer sentido e as pessoas perdem-se na espiral de violência que encontram como única forma de viver o momento que a história nos oferece. A democracia, que se fortalece pela lógica da incerteza, pode morrer de exaustão nas falsas certezas que se compram mais barato. 

Ao mesmo tempo, a guerra e as consequências violentas da mesma, em todas as suas vestimentas, são uma pequena vitória que oferecemos a Putin, depois deste ter patrocinado movimentos de desestabilização e redes de desinformação  por toda a Europa.  Não se esqueçam disso no momento em que tiverem, de novo, a oportunidade de quebrar a corrente de violência que vos puxa para o centro do acontecimento.