Um burro na televisão


“Os comunicadores não são burros”, escreve Luís Paixão Martins num tweet matinal, delineando fronteiras na análise que devemos fazer àquilo que vemos, ouvimos e lemos. Aproxima-se de uma frase que já repeti muitas vezes, quando me perguntam sobre este ou aquele personagem, de quem se duvida da capacidade para fazer o que faz. Se ali está é porque está a fazer alguma coisa bem. Mesmo que toda a máquina esteja montada para fazer com que as coisas pareçam aquilo que são, as coisas nem sempre são o que parecem. 

No mesmo tweet, Luís Paixão Martins começa por definir que “um dos princípios básicos da Propaganda é o da Vulgarização: a narrativa deve ser simples, popular e adaptada aos menos inteligentes.” Se leu isto e não se sentiu, imediatamente, um pouco burro, talvez a propaganda esteja a funcionar. Porque existem dois graus de posicionamento perante as verdades, simples e diretas, que tudo resolvem. De um lado, está aquele que a propõe, não necessariamente acreditando nela, mas crendo que é parte do processo que lhe permitirá continuar a ter voz. Do outro lado está aquele que acredita. 

No processo de simplificação da narrativa, os elementos que pensamos estanques vão-se modificando. O espaço noticioso transforma-se em espaço de entretenimento, convocando as emoções da audiência, muito mais do que a sua razão, procurando imagens, sons e mensagens que possam agarrar a sua atenção e mantê-la durante um largo período de tempo. Cada ator deste espaço deve, por isso, transformar a forma como utiliza o seu guião, de maneira a contribuir, como herói ou vilão, para o espetáculo onde toma parte.


Por isso, volte atrás e releia a mensagem de Luís Paixão Martins. Continua a sentir-se como o inteligente que aponta ao burro na televisão?