Cansaço


Para todos os lados que olhas encontras cansaço. Demorou algum tempo a perceber como assenta a poeira após a tempestade. O que não assentou foi a tempestade. A sucessão de coisas do mundo pesa sobre os ombros de cada pessoa que anda na rua. Das suas bocas, a mesma queixa. Um cansaço que nos toca a todos nas coisas que todos temos na vida. 

Não chega a ser um desânimo. Não é bem um efeito de alguma resistência. É, apenas e só, cansaço. Porque à nossa frente tudo parece fugir-nos do controlo. Os planos feitos e refeitos não encontram alicerces onde assentar. As escolhas que se tentaram lógicas e seguras desfizeram-se. O futuro nunca foi tão solidamente imprevisível como os dias de hoje no-lo demonstram. 

Parece ainda mais pesado porque não há quem seja capaz de nos oferecer uma rota de fuga. Um escape que nos permita entender que este cansaço será ultrapassado. Também quem nos tenta liderar está já cansado. Enterra-se na sua necessidade de certezas, quando, na verdade, aquilo que precisamos é de alguém que não tema ter dúvidas. E por isso, o horizonte faz-se de um cansaço que não dá sinais de acabar.