Somos demasiadas vezes vítimas das ilusões que nós próprios alimentamos. Ilusões que passam por todos os aspetos das nossas vidas. Ilusões que destroem partes do nosso caminho, bem mais consistente do que aquele que vemos quando o filtramos à luz das ambições criadas. No fundo, vivemos a nossa vida como se fosse uma peça de teatro, sem a capacidade de entender que os ensaios são um longo processo de falhanço para que as apresentações sejam uma passagem em equilíbrio pelo fio da navalha. Nunca nenhum ator está confortável na sua pele, múltipla. Mas as pessoas devem encontrar esse caminho.
Precisamos de ter um adulto na sala. O jogo das cadeiras invertido em que, em demasiadas situações, nos encontramos, não trará benefício a ninguém. Como se todos preferissem estar numa posição onde possam assacar responsabilidades ao outro, sem encontrar uma maneira de conviver com os sacrifícios que têm a fazer. Nesse jogo, a forma como se silenciam as coisas acaba por ganhar corpo, quase que impedindo as relações entre as diferentes pessoas. Alguém tem que partir a pedra que se gerou em redor dos nossos corpos.
Conversar é tão importante como respirar. Conseguir entender a forma como os outros existem para lá dessas ilusões que estão criadas à sua volta. Por cada processo interno que transportamos, outros processos estão em dessintonia nas pessoas de quem nos aproximamos. Romper com esse desnível que se cria na incompreensão é uma missão para quem não quer ficar para trás. Rasgar o conflito e abrir-lhe portas para uma resolução é um esforço necessário. Para que as ilusões não nos façam mais vítimas. Para que o caminho seja o de construção de algo concreto.